Março é o mês das mulheres! Dia 8 de março é considerado o Dia Internacional das Mulheres, que muitos preferem entender como o dia internacional da luta pelos direitos das mulheres. A data foi escolhida pois, em 8 de março de 1911, houve um incêndio em uma fábrica em Nova York no qual muitas mulheres morreram, porque as portas da fábrica estavam trancadas e elas não conseguiram se salvar, morreram ao todo 125 mulheres. Esse episódio que denunciou a situação abusiva em que mulheres trabalhavam foi marcante para a luta feminista.
A luta histórica das mulheres é um fenômeno mundial, o feminismo representa aquelas que defendem direitos iguais entre homens e mulheres, no entanto, há também nuances e vertentes incluindo diversas correntes feministas que se baseiam em recortes de orientação sexual, raça, classe social, dentre outros aspectos. O caminho ainda é longo, visto que o número de feminicídio não para de aumentar em nosso país, chegando ao dado de que 1 mulher morre a cada 7 horas no Brasil, vítima de feminicídio, ou seja, em decorrência do seu gênero (Monitor da Violência, dado obtido em 05/03/2020). Além do fim da violência contra a mulher, as lutas feministas são em busca de garantir equidade salarial, bem-estar no direito de ir e vir, liberdade sexual, equidade de oportunidades, apoio ao parto e à maternidade, boas condições de trabalho, fim da violência psicológica, muitas vezes exercidas por um parceiro, dentro diversos outro pontos que poderiam ser citados, mas o principal deles é: a liberdade de escolha, a mulher poder escolher o que quer para si! O que trazemos neste texto é a aproximação desse cenário internacional e nacional com o contexto da nossa cidade. Olhar para nossa realidade local e compreender quem foram e quem são as mulheres que estão à frente de lutas e movimentos ou mesmo que tem ou tiveram um papel de destaque.
Até hoje, em 162 anos de vida, a cidade teve apenas 9 vereadoras mulheres integrando a Câmara dos Vereadores Municipal. A primeira delas foi Elydia Benetti, em 1948, e só após 26 anos é que foi eleita uma nova representante mulher, em 1977, Mirjam Schiel. São Carlos nunca teve uma prefeita e a primeira reitora da UFSCar, Wanda Hoffmann, assumiu o cargo em 2016. Você conhece mulheres que foram importantes para a história de São Carlos? Já viu algum material em que contavam a trajetória dessas mulheres? (Se sim, comenta aqui indicando pra gente, por favor 😀 ). Não por acaso, o Wikilab fica localizado na casa de uma mulher símbolo de luta. Dona Carmen, mulher que perdeu o marido nova, havia sido proibida de fazer faculdade pois “não era coisa para mulher”, mas quando teve que assumir os negócios da família junto com as 3 filhas mulheres, trabalhou, como em muitos casos, mais do que muito homem. Criando 3 filhas sozinha, cuidando da casa, aprendendo como administrar o negócio, aplicava o que aprendia todo dia. Posteriormente, as filhas de Dona Carmen também assumiram papel de destaque: Maria Lúcia foi a primeira mulher professora da engenharia civil da UFSCar, Maria do Carmo a primeira e única diretora da Escola de Engenharia de São Carlos (USP) e Maria Célia a primeira médica cirurgiã de São Carlos. A energia feminina que existe no Wiki não veio à toa.
Como “momento curiosidade”, nós havíamos pensado o nome Wikilab no masculino, como “O coworking Wikilab”, mas grande parte das pessoas se referem a nós como “A Wikilab”. Amamos isso!
Agora, tentamos trazer alguns nomes que acreditamos ser de grande relevância no contexto são-carlense, em variadas áreas. A ideia aqui é produzir um material que seja apenas inicial para descobrirmos mais e mais mulheres incríveis que são referências para São Carlos. Vamos lá!
1) Dona Alexandrina Tenho certeza que você já passou pela Rua Dona Alexandrina, uma das mais famosas da cidade, mas por acaso já se perguntou quem foi essa mulher? Dona Alexandrina nasceu em Minas Gerais em 1816, casou-se muito nova e mudou com seu marido para a Sesmaria do Monjolinho, área que hoje faz parte do Município de São Carlos. Em vida, seu marido não quis ceder parte de suas terras (onde hoje fica localizada a E. E. Dr. Álvaro Guião) para a construção da Catedral dedicada à São Carlos Borromeu, então, a Catedral foi construída no local que conhecemos. Quando o marido de Dona Alexandrina faleceu, em 1867, ela doou cerca de 50 hectares para a cidade de São Carlos. Em 1887, visando homenageá-la, a rua chamada Jatahy, teve seu nome alterado para rua Dona Alexandrina.
2) Anita Censoni (Tânia) Esta mulher teve forte atuação na imprensa de São Carlos durante décadas, mas foi entre os anos de 1969 a 1979 que ficou conhecida por publicar suas crônicas no jornal “A Folha” de São Carlos. A autora utilizava o pseudônimo de Tânia e escrevia crônicas sobre o mundo feminino, abordando assuntos que eram considerados ousados para uma mulher. Segue uma crônica sua publicada no jornal “A Folha” em 09 de fevereiro de 1975: Versos de uma sancarlense – Carnaval – Nostalgia “(…) Hoje, sem saber como explicar Eu senti uma enorme vontade De remover um baú de recordações Quando o abri, foi como se evocasse a própria saudade O que lá encontrei? Um mundo de quimeras Pedaços de fantasia, lantejoulas e plumas, Álbuns de fotografia, enfim, restos de ilusões… Foi então que me deparei numa foto antiga Na qual eu aparecia vestida como uma colombina – Oh! Como eu me lembro ainda! Eu era apenas uma garota, assim pelos 15 anos, não mais… E como eu me sentia feliz naquela fantasia! Era toda rosa de cetim, enfeitada com pomposa … de veludo, E bordada com lantejoulas douradas E, além de tudo ainda tinha o ponto realçado por um batom vermelho carmim E uma rosa nos cabelos cacheados Eu mais parecia uma dama envaidecida, experiência, vivida … Ao invés de uma ingênua menina Por isso mesmo, eu devo ter deixado muitos pierrôs e arlequins apaixonados (…)”
3) Yvonne Mascarenhas A professora da USP de São Carlos é natural de Pederneiras, mas construiu grande parte de sua trajetória profissional na cidade. Considerada uma das fundadoras do Instituto de Química e Física de São Carlos é também membro titular da Academia Brasileira de Ciências desde 2001. Atuou como professora visitante na Harvard Medical School e na Birkbeck College em Londres. Em 2017 recebeu o prêmio Distinguished Women in Chemistry or Chemical Engineering Awards, IUPAC. Yvonne é uma pesquisadora e cientista marcante e que muito contribuiu com a ciência em nossa cidade.
4) Maria do Carmo Calijuri Ela foi a primeira e única mulher diretora da Escola de Engenharia de USP de São Carlos (EESC). Maria do Carmo é são-carlense, nascida em 16 de julho de 1956, formada em Ciências Biológicas pela UFSCar. Construiu sua carreira acadêmica no departamento de hidráulica e saneamento da USP de São Carlos. Foi Presidente da Comissão de Pós-Graduação da EESC por 6 anos e assumiu a Diretoria da Escola de Engenharia de 2007 a 2011. Posteriormente, foi Presidente da Comissão de Ética da USP, incluindo todos os campi. Atua como professora titular desde 2004. Maria do Carmo é uma das filhas da Dona Carmen, que contamos para você ali em cima, e cresceu na casa em que hoje é o Wikilab!
5) Carmelita Maria da Silva Ela é um ícone do movimento negro na cidade de São Carlos, em especial na luta das mulheres negras. Professora de Educação Física, foi a primeira mulher negra a ter uma escola de dança em Araraquara/SP, realizando sua especialização em dança com os melhores profissionais do Brasil e Estados Unidos (Nova York). Foi fundadora do projeto social Dançar na cidade de São Carlos, que ganhou diversos prêmios estaduais, nacionais e internacionais. Assim, fortaleceu a cultura do hip hop e da dança de rua, tornando-se a maior referência nessa modalidade em São Carlos. O projeto durou 25 anos, atingiu muitos são carlenses e foi fundamental para fortalecer e valorizar a cultura negra na região. Atuou também no Movimento Negro de São Carlos – Congada e foi Diretora de Cultura do Congresso Nacional Afro-Brasileiro. Atualmente é professora da rede pública municipal. No ano de 2019 foi homenageada pelo Prêmio Ruth de Souza.
6) Priscila Munhoz Alves A Priscila tem uma profissão incomum, mas muito importante, e atua em uma área que é predominantemente masculina: é a única mulher coveira do Cemitério de São Carlos. Ela relatou ter sofrido muito preconceito no início, mas diz que trabalhar no cemitério lhe fez valorizar mais a vida. Ela atua como coveira aqui na cidade há quase 5 anos e foi a única mulher que se inscreveu para o cargo. Tem 37 anos e trabalha no serviço pesado, debaixo de chuva e sol, se encarregando desse momento tão dolorido na vida das pessoas.
7) Raquel Auxiliadora Esta mulher é uma liderança do movimento feminista na cidade de São Carlos, foi gestora de políticas para as Mulheres na Prefeitura Municipal de São Carlos (2007-2012), quando implantou e coordenou o Centro de Referência da Mulher. Além disso, fundou o Coletivo Promotoras Legais Populares em São Carlos em 2010. Este programa é nacional e visa proporcionar conhecimento em direitos para as mulheres, bem como fortalecer uma rede de mulheres que se apoiam mutuamente. É gratuito e oferecido anualmente, em 9 edições mais de 266 mulheres já receberam essa formação. Além disso, Raquel é formada em Pedagogia pela UFSCar e Mestre em Educação. Atua como professora na rede pública municipal e saiu como candidata à vereadora nas últimas eleições tendo uma expressiva votação. Ela ocupa o cargo de Diretora do Sindspam (Sindicato dos Servidores Municipais de São Carlos) e é atualmente Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de São Carlos. Raquel será homenageada pelo Prêmio Beth Lobo em 2020.
Existem ainda muitas outras mulheres que foram muito relevantes para São Carlos, gostaríamos de produzir esse material junto com você! Se você conhece alguma mulher referência na cidade ou gostaria de nos indicar algum nome, por favor, comente aqui, vai ser muito importante termos esse material produzido de forma colaborativa. Contamos com vocês!