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EMPREENDEDOR SÃO CARLOS

Crônica de um empreendedor quarentenado

Referência da imagem: “Pai e filha fazem sucesso ao se fantasiarem para jogar lixo na Espanha”

Às terças feiras, um pouco da esperança na “semana perfeita” já se desfez com a crescente de seu checklist. Mas bem no fundo você sabe, a sofrência com o crescimento de um checklist é proporcional ao prazer de vê-lo riscado. Sabemos, você já se imagina utilizando esse post-it do checklist como bolacha da sua lata de cerveja ao mandar seu último email da semana. Mas tenhamos calma, ainda é terça. 

Você encerra as atividades, chega em casa e enquanto brinca de rolar a tela infinita do Instagram pensando no que vai jantar, é bombardeado por pessoas comentando sobre o que ocorrerá no Big Brother. Sim, sério, houve um tempo em que achava-se exótico pessoas trancadas em uma casa sem poder sair. 

Nos noticiários falam de um vírus que circula pelo mundo, vindo da China, mas que está longe do Brasil e dificilmente chegará aqui. O carnaval rolou, o tempo passou, o vírus chegou, você se trancou, os brothers saíram mas a vacina não veio. “A festa acabou, o povo sumiu e a noite esfriou. E agora?” [1]. Veio a doença, veio a quarentena e vieram as mortes. Choramos mas seguimos. Enfrentamos e nos adaptamos. Quarentenamos, o mundo todo, assim esperamos.

No início é provável que você tenha tido até um lapso de diversão. Seus filhos aparecendo no call com seu chefe, você e seu companheire disputando os horários de call mais próximos ao roteador e a proximidade com as crianças no dia-a-dia. Um almoço com a família toda junta em dia de semana, momento de ouro. 

Mas a quarentena continuou, se endureceu e a preocupação aumentou. Familiares doentes, amigos desempregados, empresas desesperadas e qualquer espirro se tornou mais assustador que a musiquinha do plantão da Globo. Veio o álcool em gel, vieram as máscaras e veio o distanciamento social. Mas você continuou em casa, e de tanto olhar para ela, começou  a encontrar umas “coisinhas” que poderiam ser ajustadas.

O tédio querides leitores, o tédio de uma quarentena, ainda há de ser reconhecido como a mais potente força motriz da criatividade humana. Estudos dizem que neste período, só a cidade de São Carlos, consumiu mais material de construção do que toda Dubai (mentira). Todos se tornaram pedreiros, encanadores, pintores, eletricistas e até especialistas em limpar cortinas. Como foi bonito ver as pessoas aprendendo novas habilidades e cuidando de seus lares. 

Mas após certo tempo de reformas desenfreadas, muitos se cansaram. E neste momento aconteceu o primeiro Circuit Breaker no sistema de home offices. Por que alguns vizinhos gostaram tanto da ideia de reformar a casa que continuaram, mesmo durante os dias de semana, a realizar trabalhos pesados. E no exato momento em que você fazia um call  importante, seu vizinho ligava uma furadeira tão potente que seu cliente não sabia se estava conversando com você ou com um liquidificador. 

Passado esse primeiro stress, vieram os pães. O consumo de fermento nas residências foi tanto que criou-se um sindicato dos fungos (mentira) para rever as novas condições de trabalho. Todo o seu crossfit foi jogado no lixo e em poucas semanas de panificação caseira sua dieta low carb se transformou em high carb.   

Vieram também as quedas de internet, a queda de energia e a obra na rua da frente. Mas faltava a cereja do bolo para aqueles que são pais, as férias escolares. Que momento mágico. Passar as férias de seus filhos com eles, vendo-os todos os dias o dia inteiro.  No início você pesquisou brincadeiras na internet, combinou um rodízio com os vizinhos para conseguirem trabalhar e aos finais de semana inventou receitas e dormiu em cabanas de cobertor na sala. Mas você não estava de férias, pelo contrário, seu trabalho nunca havia precisado tanto de você. 

Fatores como esse ainda deixam em dúvida quem obteve maior crescimento nestas férias, se a pandemia, o preço do dólar, nossas circunferências abdominais ou o stress dos pais. Alguns médicos otorrinolaringologistas têm relatado casos de pais que levam seus filhos aos consultórios e alegam que o barulho do choro deles ultrapassou os 120 decibéis durante a quarentena (mentira). 

Sim, sabemos que você luta bravamente e que não é fácil. Temos saudades, muitas saudades. Saudades de conviver socialmente, de irmos aos espaços públicos passear ou praticar esportes, saudades de olhar no olho de um colega de trabalho e sentir a confiança que só a linguagem corporal nos diz. As telas nos ajudam e somos gratos a elas e a quem as desenvolve, mas não substituem um café frente a frente, uma mão de apoio no ombro ou uma conversa no jardim do Wikilab.

Cada um sofre à sua maneira esse período que passamos, por isso é momento de nos apoiarmos. Todes a todes, de múltiplas formas, com colaboração e carinho.

Em breve estaremos todos juntos, novamente, presencialmente! 

[1] Referência ao poema “José”, de Carlos Drummond de Andrade, publicado originalmente em 1942.

Texto escrito pela Equipe Wikilab.

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