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EMPREENDEDOR SÃO CARLOS

Crônica de um empreendedor: capítulo 01

Crônica de um empreendedor: capítulo 01

Um final de semana chuvoso era a desculpa perfeita que você precisava para ficar em casa e descansar. Um vento úmido, a temperatura abaixando e aquela série do Netflix sussurrando em seu ouvido: venha, venha, venha… Foi assim, você se entregou e alcançou o tão merecido descanso dos justos. 

A segunda feira vem, chega cruelmente para todos os mortais, mas você, energizado pelo delicioso final de semana, decide voltar cheio de vontade para o escritório.  Chega lá “colocando a braçadeira de capitão” e disposto a “bater todos pênaltis”. Será nessa semana  que irá zerar seus atrasos, riscar todo o seu checklist e mandar vir mais “To Do’s” do planejamento estratégico. Uma baciada de dopamina passeará pelo seu corpo irrigando de harmonia seus comportamentos.

Tudo pronto, “bora” fazer acontecer. Senta então em sua mesa, convoca o time para a reunião de início de semana e durante a conversa um funcionário assusta e repentinamente contrai as costas, arrasta a cadeira e quando todos olham para ele, diz: “desculpa, mas senti um pingo em minhas costas”. Todos franzem a testa, contraem as sobrancelhas e olham com estranhesa para o teto. E lá está ela, outra gota. Ela balança com o vento do ar condicionado, vai e vem, de um lado para o outro, está quase despregando. Uma ligeira mancha de umidade a empurra para ser expelida e, como um adolescente espremendo uma espinha, ela sai do teto e pinga… 

Nesse momento, enquanto seus funcionários veem água, você vê cenas de terror mais horripilantes que todo o acervo do Netflix poderia produzir junto. Nervosismo, raiva e ansiedade começam a se espalhar por seu corpo, as mãos tremem como se já tivesse tomado os 18 cafés diários. Entre o grito e o choro você se confunde em como se expressar… Mas você é forte, se controla, lembra do seu final de semana, estufa o peito e pensa: vou resolver isso também. Missão dada missão cumprida, vida de empreendedor. 

Liga na imobiliária, resiste bravamente por 38min de espera no telefone, e escuta: “entendo a sua situação, mas isso provavelmente é com o proprietário…” Ao perceber o “Dia de Fúria” em que você está preste a entrar, o atendente rapidamente te diz:  “Mas calma,  FIQUE TRANQUILO, vou ver se algum dos nossos prestadores consegue dar um pulo aí para dar uma olhada, pode ser?” Apesar dessa ordem, “FIQUE TRANQUILO”, neste momento, ser tão irritante quanto uma criança dentro de um ônibus para São Paulo assistindo Galinha Pintadinha em som alto, você se recompõe como um guerreiro, exercita o buda que existe em você, e diz: ok, podemos já marcar um horário?

Nessa hora tudo parece uma grande piada, como se fosse um antigo amigo seu fazendo uma brincadeira, o atendente te diz: Mas você sabe né, com essa chuva do final de semana ficou complicado, o pessoal está com agenda lotada, podemos marcar para sexta-feira?

“Como sexta, hoje é segunda? Está me pedindo para ficar 5 dias com uma goteira no meu escritório?” Nesse momento você só pensa no filme “Relatos Selvagens” e em qual daquelas situações você se encaixa melhor, mas ao voltar para a realidade e ver que não tem outra opção, você aceita, iludindo-se para não sofrer, que na sexta feira o prestador resolverá tudo.

Ponto superado. Você e sua equipe saem, vão para a rua atender seus clientes, fazer suas reuniões e a segunda-feira continua. Visitas bem sucedidas, você é bom no que você faz e sua equipe é um time que joga junto, você sabe disso. Seu celular vibra no console do carro, mas você olha a mensagem só pela tela de início do WhatsApp para não aparecer que você já visualizou e não respondeu. A notícia é boa, um sorriso involuntário brota em seu rosto e os hormônios da felicidade voltam a fazer efeito. A sensação de capitão de time vencedor enche seu peito novamente e você vai para o escritório ver a agenda e responder a mensagem. 

Chega no escritório, aquela porta meio emperrada dá um trabalhinho para abrir, mas você já se acostumou com algumas coisas ruins. O tapete da entrada está sujo, você esqueceu de levar para casa e lavar, mas releva porque a semana promete ser boa. O café que já esfriou não te espanta, é segunda-feira, mas você conseguiu descansar no final de semana. Só quer sentar para trabalhar. Abre o computador, clica no navegador e aquela tela cinza exibe a mensagem “SEM INTERNET”. Uma respirada mais longa, as costas se endireitam, os olhos se contraem e você tenta acreditar que aquilo está de fato acontecendo. Instinto imediato, desliga e liga novamente o Wi-Fi do seu computador, doce ilusão… 

Você para e, novamente, pensa com calma, esse problema já aconteceu diversas vezes e a atendente sempre te pede, em voz robótica, para tirar e recolocar o modem e o roteador da tomada. É isso, você sabe como resolver esse problema. Com a sensação de quem aprendeu tudo com os 379 técnicos de internet que já passaram pelo seu escritório, você desliga e religa os aparelhos. Para dar um tempo até que a conexão seja restabelecida você pega um copo de água sem ser gelada, porque o filtro quebrou, e olha um pouco pela janela da copa, que dá para aquela parede úmida do corredorzinho de 80cm de largura em que fica a porta de entrada. Retoma a esperança e senta novamente em frente ao computador. Conforme esperado, porém iludido, não funcionou, a mensagem de “SEM INTERNET” insistentemente continua em sua janela quase te dizendo “Ainda estou aqui! Achou que seria fácil se livrar de mim”. Um mix de pânico bem humorado, como em uma crônica de tragicomédia, toma conta de você. 

Tudo parece um desafio, você fez bem o seu trabalho, agora era só concretizar a venda. Mas o prestador de serviço de internet, aquela empresa milionária para a qual você suadamente paga todos os meses, não te entrega o combinado em contrato. Tudo parece uma corrida de obstáculos, e quando você achou que estava quase terminando, lembrou que também existem barreiras ocultas, que podem surgir em sua frente de forma randômica e aleatória com o único objetivo de te importunar.

Em um dos atos mais heróicos que o empreendedor brasileiro pode realizar (obs.: brasileiro, por que “brasileiro não desiste nunca”) você decide ligar para o “prestador de serviço de internet”. É a materialização da palavra coragem. Um daqueles momentos que merece luzes, flashs, lantejoulas caindo e trombetas soando pelo espaço. Mas nada disso acontece enquanto você é obrigado a conversar com um robô por 28 minutos até que uma pessoa possa, de fato, falar com você. “Sim, sabemos que temos um problema na sua região, blábláblá, iremos reparar dentro de 48h”. 

48 fucking horas? Você trabalha loucamente, desenha uma estratégia, estrutura um funil de vendas, paga um software específico para isso, cria métricas, estabelece sistemas de comissão e a maldita empresa de internet vem te falar de 48 horas? Ok, superado, seu perfil é mente positiva e resolução de problemas. 4G roteado do celular e agenda aberta na tela, mas é inegável que aquela vontade de explodir alguém ou alguma empresa não sai da sua cabeça. Você tenta esvaziar a mente e colocar o foco no cliente, novamente é preciso manter a calma e responder aquele pedido de reunião. 

Boa, deu certo. Ele atende seu telefonema e você começa a falar com ele sobre o melhor horário da reunião. Tudo corre bem, até que aquela goteira, lembra dela? Aquela que de manhã acertou as costas do seu estagiário? Agora pinga suavemente em sua nuca para te lembrar que ainda está lá… Você estremece de raiva, suas pálpebras se contraem com espasmos nervosos e seu olho seca. Você se emputece, mas não demonstra, apenas categoricamente se lembra que você não pode recebê-lo naquela espelunca de imóvel que você alugou. Você consegue pensar em soluções enquanto a conversa flui, você é realmente bom no que faz, mas a britadeira ligada na obra do seu vizinho te desconcentra e acorda a criança da outra vizinha, que começa a brigar com a irmã. Como em um ato apoteótico, gritos, choros, latidos de cachorro e britadeiras passam a compor a babilônica orquestra que enreda o pano de fundo do grande ato do herói empreendedor, uma simples tentativa de trabalho. 

Você só quer focar sua energia no seu trabalho, não está pedindo muito. Será possível apenas sentar e trabalhar sem precisar de uma jornada de herói para isso? Sim, com certeza, seria mágico se alguém cuidasse de toda a infraestrutura para você, não é mesmo? Pois é, o Wikilab acredita que a vida e o empreendedorismo se constróem com colaboração e possuem um significado muito maior do que “abrir um negócio”. É por isso que aqui, muito além de uma infraestrutura de ponta, encontra-se uma comunidade de pessoas. 

Wikilab Coworking. Crônica de um empreendedor, capítulo 01.

Texto escrito pela equipe Wikilab. 

Imagem:  Cena do filme “Um dia de Fúria”. Disponível em: https://www.planocritico.com/critica-um-dia-de-furia/

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