As discussões sobre o futuro do trabalho não são de hoje, já há algum tempo estudiosos vêm analisando as tendências que se delineavam para o futuro das organizações e das culturas empresariais. Ainda em 2013, um estudo examinou o grau de suscetibilidade de mais de 700 empregos à informatização e descobriram que, nos Estados Unidos, 47% dos trabalhadores desenvolviam funções com alto risco de automação em potencial.(1) Em 1999 o Google inovou criando espaços de trabalho cheio de atrativos que mais pareciam parques de diversões para adultos, modificando a visão que temos do ambiente de trabalho. Essa discussão extrapolou apenas os parâmetros de automatização, das grandes empresas inovadoras e de quais seriam os “empregos do futuro”, como é comum vermos por aí. A questão da cultura organizacional e das formas de trabalho já vinha ganhando força e em 2020, com a pandemia de Covid-19, o debate assumiu grande relevância e passou a estar na boca do povo.
Quem não ouviu em 2020 “Mas você acha que o home office veio pra ficar?” ? A pandemia nos impôs o distanciamento social e, consequentemente, a necessidade de muitas empresas se adaptarem ao trabalho remoto. Essa forma de trabalho já era utilizada em algumas corporações e já haviam times 100% remotos, mas de repente o mundo inteiro se viu obrigado a trabalhar dessa forma e em um piscar de olhos, estávamos vivendo o “futuro do trabalho”. No entanto, as consequências dessas novas práticas são ainda pouco conhecidas, estamos vivendo esse novo normal aqui e agora.
Os escritórios tradicionais como sempre conhecemos dificilmente serão mantidos nos mesmos moldes, o trabalho remoto é interessante para as empresas, pois diminui muito os custos com infraestrutura, fazendo com que grandes estruturas sejam repensadas. Devido ao momento que vivemos, vale pontuar que querer ficar em casa é diferente de ser obrigado a ficar em casa. Fazer home office com o mundo funcionando normalmente, também é diferente de fazer home office com o mundo de cabeça pra baixo e um estresse social generalizado. A maioria das pessoas dizem ver mais vantagens do que desvantagens em poder trabalhar de casa. Mas será mesmo o home office tão bom assim? A princípio para muitas pessoas pode parecer um sonho, mas a longa prazo algumas consequências já podem ser observadas como dores no corpo devido à mobília inadequado, sociofobia devido à falta de convivência diária com outras pessoas e níveis de estresse elevados devido às cobranças de superiores e também à falta de divisão entre vida pessoal e profissional. No caso de mães e pais esse quadro ainda tem outros fatores, pois ao mesmo tempo em que o indivíduo pode passar mais tempo com sua família, as demandas domésticas aumentam e tornam difícil o desempenho da atividade profissional.
6 dicas para empresas híbridas ou com time 100% remoto
Muito tem se falado que o modelo ideal seria o híbrido, o que isso significa? Trabalhar alguns dias de casa e outros do escritório ou de um coworking. Mas não é tão simples quanto parece, tanto no time 100% remoto, quanto em um time híbrido é necessário que a empresa faça ajustes em sua forma de gestão, podendo sofrer danos significativos, principalmente em sua cultura organizacional. Alguns dos erros mais comuns são o espaço de tomada de decisão ser fora do digital, o que impacta diretamente na relação que os colaboradores desenvolvem com a empresa, além disso, o fato de gestores trabalharem sempre no escritório também pode ter consequências negativas, pois os demais colaboradores podem se sentir excluídos. Os processos criativos devem ser adaptados para o digital, além da preocupação constante com a transparência. A comunicação é outro ponto de fundamental importância, a aposta é investir em uma comunicação escrita clara e eficiente, podendo se valer das mais diversas plataformas que vêm para ajudar nessas soluções, evitando reuniões em excesso que em alguns casos discutem tudo para se chegar em lugar nenhum.
O futuro do trabalho
O ser humano é social, ele busca conviver em grupos e estar em contato com outras pessoas, isso não irá mudar, as pessoas não ficarão para sempre isoladas em suas casas. A rotina de ir para um local destinado ao trabalho, de conviver com colegas, de brincar, tomar decisões olho no olho, tomar um café ou mesmo ir para um happy hour após o trabalho são práticas que têm efeitos significativos não só no rendimento no trabalho, como também nas conexões humanas que se estabelecem.
Vale lembrar que o surgimento do coworking se deu justamente por um grupo de pessoas que trabalhavam em projetos independentes, ou seja, não tinham um escritório para frequentar, se vendo isolados e sem estrutura adequada. O primeiro espaço de trabalho compartilhado se via “não apenas como um espaço de trabalho com boa relação custo – benefício e infraestrutura compartilhada, mas também como um espaço social e criativo que possibilita sinergias e libera inspiração”. (2) Podemos ver que a história se repete e que talvez a gente viva nos próximos anos uma explosão dos espaços de coworking, pois é isso que precisamos, nos conectar com pessoas diferentes e sair de nossas bolhas, melhorando nossos trabalhos e tendo ideias inovadoras. Steven Johnson já dizia em seu livro “De onde vêm as boas ideias – A história natural da inovação” (2010) que é muito raro casos de pessoas que, trabalhando sozinhas, em um momento de genialidade tem uma inspiração que muda o mundo. O estudioso diz que as boas ideias vêm da colisão entre palpites menores, em conversas despretensiosas, e a melhor forma de se fazer isso é expandindo sua rede de relacionamentos, tendo a maior quantidade de conversas possível sobre temas diversos com pessoas diferentes. Assim que possível, ouse sair das bolhas digitais e viver a imersão num ambiente dinâmico e pulsante, como um coworking!
(1): O estudo foi realizado por Carl Benedikt Frey e Michael Osborne.
(2) Fonte: https://coworkingbrasil.org/historia/
Texto escrito pela Equipe Wikilab A foto de capa foi tirada no aniversário do Wiki de 2019, ou seja, antes da pandemia de coronavírus.
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