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Setembro amarelo

O mês de conscientização e prevenção ao suicídio, Setembro, tem cor: Amarelo. Tanto o mês, como a cor, tem história.

Contudo, o mais significativo é olhar para os alertas trazidos pela campanha. Afinal, por exemplo, aqui no Brasil, de acordo com o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde, os dados sobre suicídio de adolescentes no período de 2016 a 2021, (englobando a pandemia de COVID-19) foram alarmantes. 

Nesse boletim tivemos registrados 6.588 casos de suicídio entre adolescentes nesse período. Um número bastante grande que destaca a necessidade de medidas preventivas e de apoio à saúde mental, em especial, dessa população.

Por isso, principalmente, é importantíssimo que falemos e tentemos agir com prevenção. Só assim conseguiremos cuidar e apoiar quem precisa!

Para ajudar você a entender um pouco mais sobre o tema e as questões envolvidas, chamamos o psicólogo e psicanalista Vicente Pereira.

1. O que significa o mês de Setembro Amarelo?

A campanha, na forma em que está estabelecida, surgiu em 2003 pela OMS, instituindo o dia 10 de setembro como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio se estendendo para todo o mês ações de conscientização.

A necessidade da campanha fica evidente com os dados crescentes de suicídio. Além disso, causas também crescentes e a flagrante proximidade dos casos que tem se avizinhado mais na vida da população, tornam ainda mais urgente conversar a respeito de saúde mental, de suicídio, suas causas, modos de prevenção.

A. Por que o mês de setembro foi escolhido para a campanha?

Em 1994 o suicídio do jovem americano Mike Emme causou uma comoção entre seus amigos e familiares. Com apenas 17 anos de idade, Mike era conhecido por se aventurar na mecânica automotiva e muito altruísta. 

Ele restaurou um Mustang Amarelo e por isso foi chamado de “Mustang Mike”.  Contudo, em 8 de setembro, sem que ninguém ao redor percebesse os sinais, Mike tirou sua própria vida, dentro do seu carro, na garagem de casa. 

O choque que se espalhou entre todos de seu convívio mobiliza uma ação já no seu funeral. E o mês ficou como um marco na história da prevenção do suicídio.

B. A cor Amarela

Alguns dos amigos mais próximos ou os que mais se tocaram com sua partida repentina produziram cartões com uma fita amarela dentro (em alusão a cor do carro de Mike) com a frase “se precisar, peça ajuda” , além de telefones para que pudessem ligar e pedir por ajuda. 

Em cerca de três semanas, após os colegas enviarem esses cartões para todos os lugares, um pedido de ajuda foi recebido. 

C. Propósito do “mês de Setembro Amarelo”? 

No mês de Setembro, em especial, lembra-se muito da importância de conversar a respeito do suicídio, já que é um mês dedicado a essa conscientização. 

O propósito é quebrar o estigma frente ao tema cujo silêncio pode ser perpetuador de sofrimentos. Não tratar o suicídio como um tabu, mas algo da ordem da prevenção e de alcance de todos e assim, fortalecendo os laços sociais. 

Aos cidadãos é importante não encarar a busca por ajuda como fraqueza. Foi assim que colegas e familiares de Mike Emme criaram o Yellow Ribbon — laço amarelo — uma organização de conscientização e prevenção ao suicídio. 

2. Quais os temas abordados no Setembro Amarelo?

Entre as causas de suicídio, a depressão talvez seja o transtorno mais comentado atualmente. O aumento de incidência desse transtorno tem sido pauta de grandes discussões em saúde mental e chamado a atenção para as formas de tratar e prevenir. 

Porém outros transtornos mentais não devem ser menosprezados. Isso porque os riscos de suicídio aumentam quando outras comorbidades já estão presentes no quadro de saúde do sujeito, como por exemplo, o uso abusivo de substâncias psicoativas.

  1. Dados sobre suicídio no BR

Em estudo apresentado em 2022 pela Fiocruz evidenciou-se o aumento de suicídios no Brasil em regiões mais vulneráveis economicamente, como o Norte e o Nordeste do Brasil, acometendo pessoas de idade mais avançada. 

  • Homens acima dos 60 anos de idade e mulheres a partir dos 30 anos de idade, na região Norte. 
  • No Nordeste o aumento se deu em mulheres acima de 60 anos de idade. 

Junto da vulnerabilidade socioeconômica, o isolamento social provocou aumento de sintomas que acometem a saúde mental dessas pessoas. 

Noutras regiões do Brasil as taxas de suicídio se mantiveram estáveis. Mas isso significa que os números indicam 44 TENTATIVAS DE SUICÍDIO POR DIA, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em julho 2022.

Significa ainda que tivemos 16.262 tentativas de suicídio no ano de 2022.

A título de comparação, no período entre 2010 e 2019 a SVS aponta que o suicídio é a quarta maior causa de mortalidade entre jovens de 15 a 29 anos. Essa pesquisa aponta que entre os jovens o aumento foi mais alarmante: 81%.

2. Dados sobre depressão no BR

Sabemos, também que a depressão e outros transtornos podem levar ao suicídio. Aspectos fisiológicos e genéticos da vida podem levar à necessidade de tratamento com medicação e terapia que visa atenuar os sintomas. 

Porém fatores externos ao corpo existem: eventos traumáticos, vulnerabilidade social e econômica como já apontado anteriormente.

Em 2022 a OMS fez sua maior revisão sobre saúde mental desde a virada do século impulsionado pelo constante crescimento de casos de suicídio e depressão. Estimou-se que quase 1 bilhão de pessoas viviam, em 2019, com algum transtorno mental.

Como resultado, foi criado o Plano de Ação Integral de Saúde Mental 2013–2030. Embora o plano tenha sido implementado, as metas a serem alcançadas ficam cada vez mais longe devido à negligência da saúde pública no setor de saúde mental.

3. Qual é a importância do Setembro Amarelo para a sociedade?

A primeira edição do Setembro Amarelo ocorreu no Brasil em 2015. E teve parceria entre diversas entidades como: 

  • o Conselho Federal de Medicina (CFM), 
  • a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)
  • o Centro de Valorização da Vida (CVV), entre outras instituições.

Essa edição trouxe para nossas terras uma campanha mundial, dando visibilidade para um problema que aumentava no Brasil.

  • Quem é responsável pelas questões da saúde mental

No Brasil o SUS adota um conceito ampliado de saúde, que inclui a saúde mental. Ainda assim, os investimentos e promoções desse setor seguem a tendência mundial, prevalecendo um modelo biomédico que não aborda questões sociais e políticas como fatores de promoção de saúde: acesso aos cuidados, prevenção, educação, qualidade de vida, etc. 

Porém, importante ter claro que um dos aspectos que envolvem o suicídio é, justamente, o afastamento social. Afinal, a partir do não pertencimento que empobrece laços, desampara, e produz o isolamento do indivíduo com o mundo. 

As manifestações de ordem psíquica são encaradas das mais variadas formas, desde um aspecto religioso, portanto moral, até um aspecto genético, e, portanto, inescapável. É um campo de ampla disputa entre religião e ciência na abordagem ao tema, tornando um tema nebuloso e de difícil debate. 

  • O que fazer para conscientizar as pessoas sobre o Setembro Amarelo? 

A necessidade de falarmos sobre saúde mental, integrando o indivíduo física, social e mentalmente, como já dito, pode ser um dos pontos maiores de prevenção ao suicídio. Ou seja, é necessária uma reeducação sobre saúde mental a partir da implementação de ações de políticas públicas condizentes com a realidade dos cidadãos tal qual já está previsto no SUS.

  • Como ajudar na prevenção?

Além da origem no Mustang de Mike, vamos para uma analogia com nosso código de trânsito brasileiro. Ambos indicando que, em especial, em setembro o suicídio requer nossa atenção.

O sinal amarelo é o que determina, nas grandes vias, o momento de parar de forma segura e com atenção para o bom funcionamento da circulação de pessoas e seus veículos. 

O sinal amarelo pode ser lido, portanto, como um indicador de prevenção de acidentes e condutas arbitrárias que balizam comportamentos tornando quem circula na cidade ciente de riscos e, por consequência, responsável pela manutenção da vida ao redor.

Pensando nisso, no mês seguinte ao Setembro Amarelo, especificamente no dia 10 de outubro, temos o Dia Mundial da Saúde Mental. É nesta data que lembramos a importância da promoção de qualidade de vida como ponto de partida para a discussão além de o mês todo de Janeiro (o Janeiro Branco) dedicado à Saúde Mental.

4. Conclusão

Ao perceber fatores de risco presentes procure por ajuda. Converse entre os pares e, se necessário, encaminhe para profissionais competentes, como psicólogos e/ou psiquiatras.

O CAPS (um instrumento do SUS de acolhimento para questões psicossociais), também está preparado para um acompanhamento dedicado à realidade de cada um. 

E como instituição temos ainda CVV, que já é historicamente reconhecido como apoio importante na prevenção ao suicídio.

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